Shazam! Eis Álvaro de Moya!

Sempre fui admirador do trabalho de Álvaro de Moya em prol da divulgação dos quadrinhos brasileiros, mas antes de conhecê-lo pessoalmente e entrevistá-lo para o Jornal da ABI, em 2011, não tinha a exata dimensão de sua importância não só para os quadrinhos, mas também para a comunicação no Brasil. Mas vou tentar resumir aqui.
Além de ter sido um dos maiores especialistas em histórias em quadrinhos, respeitado por autores, acadêmicos e desenhistas do mundo todo, Moya foi jornalista, desenhista, quadrinista, ilustrador de livros, roteirista, produtor, diretor de TV e de cinema e professor da Universidade de São Paulo/USP.
É autor de alguns dos mais importantes livros sobre quadrinhos lançados no País, como Shazam!, um marco da bibliografia do gênero. Além dele, Moya escreveu História da História em Quadrinhos, O Mundo de Disney, Vapt-Vupt e Glória in Excelsior, sobre a televisão que ele dirigiu nos anos 1960.
Foi chargista e ilustrador do jornal O Tempo e um dos capistas oficiais de O Pato Donald e Mickey, primeiras revistas Disney publicadas pela Editora Abril no início dos anos 1950. Com a irreverência que lhe é comum, seu amigo Jô Soares certa vez afirmou que Moya assinava “Walt Disney” melhor do que o próprio Disney.
Desenhou as adaptações para os quadrinhos de A Marcha, de Afonso Schmidt, Macbeth, de Shakespeare, e Zumbi, sobre a vida do Rei dos Palmares, para a Editora La Selva.
A convite do Governo americano, estagiou na CBS TV, de Nova York, em 1958, quando aproveitou sua permanência nos Estados Unidos para entrevistar personalidades do cinema, da literatura e dos quadrinhos para o Grupo Folha. Foi nesse período que iniciou um rol de amizades com grandes nomes do desenho, como Will Eisner, Mort Walker e Al Capp.
A partir de 1966, passou a ser chefe da delegação brasileira do Salão de Lucca, na Itália, principal evento anual da Europa sobre quadrinhos da época, até 1998. Foi conferencista em Buenos Aires, New York, Roma, Lucca e no Museu do Louvre, em Paris. Grande amigo de Mauricio de Sousa, trabalhou para divulgar e vender as tiras da Turma da Mônica nos Estados Unidos e Europa, com muito êxito.
Pioneirismo na televisão
Também foi um pioneiro na televisão brasileira, responsável pelos desenhos dos letreiros do programa de inauguração da TV Tupi em 18 de setembro de 1950. E teve expressiva atuação como diretor e produtor da TV Excelsior. Foi nessa emissora que Moya estabeleceu os parâmetros de qualidade de programação e produção da TV moderna no Brasil, seguidos anos depois pela Rede Globo. Sob sua direção, a Excelsior foi a primeira a usar o sistema de programação horizontal e vertical, além de estabelecer a pontualidade na exibição dos programas, algo que não acontecia nas emissoras. Foi Diretor e produtor de programas que marcaram época, como Brasil 60, apresentado por Bibi Ferreira, Cinema em Casa, Teatro 9 e tantos outros exibidos com grande sucesso pela TV Excelsior. Em 1967 participou da inauguração de outra televisão, a TV Bandeirantes, onde produziu a novela Os Imigrantes. Foi diretor artístico da TV Paulista e TV Cultura, e diretor de criação da Rede Tupi de Televisão.
Entre 1970 e 1977 foi programador do Cine Marachá, antológico cinema que ficava na Rua Augusta e o tornou famoso com as disputadas Sessões Malditas que Moya lançou. Criou também cartazes de cinema de filmes de terror como Ilha dos Mortos, com Boris Karloff, e o clássico Maldição de Sangue de Pantera, ambos desenhados por seu grande amigo Jayme Cortez. E, pasmem, foi diretor de um dos mais cultuados e divertidos filmes pornôs realizados no Brasil: A B... Profunda.
Voltando aos anos 50, quando os quadrinhos eram criticados pela esquerda e pela direita, por jornalistas, educadores, religiosos e “especialistas” em comportamento, que consideravam sua leitura uma ameaça à juventude, Álvaro de Moya e alguns irredutíveis amantes dessa maravilhosa arte gráfica, decidiram romper as barreiras do preconceito e criaram em São Paulo, em 1951, contra todas as expectativas, a Primeira Exposição de Quadrinhos didática do mundo, que apresentava as HQs como uma grande expressão artística. E, pelo resultado que vemos hoje em dia, em prêmios e centenas de lançamentos no Brasil, ele, Jayme Cortez, Syllas Roberg, Reinaldo de Oliveira e Miguel Penteado conseguiram mostrar o caminho.
Foi colaborador de enciclopédias na Espanha, Itália, França e Estados Unidos e da Revista Abigraf, além dos jornais O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde e Folha de S. Paulo. Foi um dos autores da Histoire Mondiale de La Bande Dessinée, obra de fôlego organizada por de Claude Moliterni no fim dos anos 1970.
Recebeu os prêmios Città di Lucca, Fábio Prado (União Brasileira de Escritores), Roquette Pinto, Tupiniquim, Ângelo Agostini, O Tico Tico, HQMix, Hall da Fama, Melhores do Ano e foi homenageado pela Assembleia Legislativa e pela Câmara de Vereadores de São Paulo.